COMO FICAM MINHAS HABILIDADES NO MUNDO DIGITAL

COMO FICAM MINHAS HABILIDADES NO MUNDO DIGITAL

2 de agosto de 2019

Paulo Roberto Bertaglia

 

INTRODUÇÃO

 

Recentemente fui convidado a palestrar sobre capacitação e novas habilidades necessárias aos profissionais em segmentos e funções diversas à luz do mundo digital ou Indústria 4.0. A partir daí não faltou muito para sair este artigo.

Cada indústria, do varejo à automobilística, dos componentes eletrônicos ao segmento químico, está, hoje, se defrontando com transformações essenciais aos negócios no âmbito global, buscando a redução expressiva dos tempos, maiores fatias de mercado, a competição pelos preços e pelos talentos e a ênfase na tecnologia.

A grande maioria das empresas não tem todas as respostas para as questões mais desafiadoras, apesar dos avanços e da criação de novos modelos de negócio, do desenvolvimento de produtos e serviços fantásticos, da tecnologia, do relacionamento colaborativo, dos programas de qualidade, das técnicas de just-in-time e do comércio eletrônico.

Nunca foi tão necessário enfatizar as habilidades e as competências empresariais. Como se presume, a força de trabalho passa a ser preponderante; o compartilhamento do conhecimento atualizado passa a ter prioridade. Imaginar que o conhecimento possa estar armazenado em um gigantesco banco de dados não traz vantagem competitiva, embora muitas organizações pensem que sim.

O conhecimento tácito deve ser cada vez mais valorizado, mas não apenas ele. A criatividade é fundamental, bem como o pensamento criativo, que também possibilita fazer uso desse conhecimento. Temos que aprender a desaprender e a reaprender.

As mudanças e as rápidas transformações pelas quais passam as organizações exigem uma nova forma de pensar. Novos processos de negócio, investimentos em tecnologia e colaboração na forma de relacionamentos bilaterais e até multilaterais são fundamentais. No entanto, nada disso é possível se a força de trabalho não estiver capacitada e alinhada com as estratégias da organização. A expressão “gestão de mudança” continua fortalecida, e não é para menos. Com a velocidade que as mudanças ocorrem ou são necessárias, os indivíduos não têm tempo para absorvê-las e, muitas vezes, oferecem resistência a elas. A organização não tem mais tempo de preparar as pessoas e consumir tempo para convencê-las sobre os benefícios desse ou daquele projeto. A compreensão e administração da mudança é essencial para quebrar barreiras e buscar ajuda para impulsionar as iniciativas e a entrega de resultados que afetam clientes e acionistas.

Nos dias atuais, existe uma preocupação muito grande em contratar, desenvolver e reter pessoas com competências e habilidades. A falta de pessoas capacitadas em algumas áreas é a grande ameaça para se conseguir os resultados esperados.

O objetivo aqui não é esgotar os temas “competências”, “habilidades”, “gestão do conhecimento”, “aprendizagem” e “criatividade”. Contudo, ao se abordar esses conceitos, demonstra-se a preocupação com o desenvolvimento pessoal dos profissionais que visam desenvolver-se em toda a organização.

Ainda que seja difícil acompanhar a velocidade e as mudanças dos tempos modernos, os profissionais precisam se adaptar. Os dinossauros desapareceram, entre outros fatores, devido às dificuldades de adaptação.

 

PREPARANDO-SE PARA CONVIVER COM AS MUDANÇAS

A globalização trouxe grandes modificações ao mundo empresarial, seja no segmento de serviços ou no de bens. Essas profundas modificações se refletem no mercado de trabalho, onde pessoas, cargos e funções devem se readequar face à nova realidade.

A história mostra que a evolução tecnológica elimina muitas posições nas empresas e cria outras. Cargos como os de operadores de telex, operadores de máquinas de perfurar cartões, ascensoristas, digitadores, telefonistas, secretárias, operadores de computadores de grande porte, operadores de máquinas copiadoras, gerentes de sistemas, gerentes de funções empresariais, ou estão desaparecendo, ou sofrendo mudanças radicais.

Em um mundo cada vez mais globalizado, fatores como a forte competição obrigam as empresas a procurarem alternativas de sobrevivência. Com isso, os cargos e as posições necessitam de adaptações. O profissional que não evoluir, não acompanhar as mudanças, determinará o seu próprio fim.

 

A EVOLUÇÃO

O conceito funcional das áreas empresariais sofreu grandes modificações nos últimos anos. Áreas que trabalhavam como silos isolados, encontram-se, agora, agrupadas e integradas naquelas organizações que querem estar na vanguarda. Um exemplo: no contexto de planejamento, compras, manufatura e distribuição, caminhamos para interfaces e limites claramente definidos em um único processo: supply chain integrado ou logística integrada. Essa medida reduz os conflitos internos e aumenta a velocidade no fluxo de informação e de material, com a finalidade de atender às expectativas dos clientes e consumidores. Ela também gera indicadores de desempenho para administrar a cadeia de valor em toda a sua extensão.

Medidas importantes, outrora isoladamente utilizadas, passam a não ter peso quando pensadas no conjunto. Indicadores que, antes, eram fundamentais na produção, como consumo de mão-de-obra em função do produto terminado, passam a ter um peso menor. A empresa é medida pela eficácia do ecossistema e não apenas pela eficiência de suas máquinas. A experiência e a demanda do cliente se sobrepõem à fabricação em larga escala para buscar eficiência de produção, mesmo que (pasme!) não tenha demanda.

A quebra de paradigma em relação ao uso da tecnologia é um dos fatores responsáveis por toda essa mudança, acompanhada pela onda da globalização e novas formas de negócios. Antigamente, a sala do computador era um recinto inacessível, fechado a sete chaves e que causava medo ao simples mortal. Atuar em informática significava ser um gênio ou um louco. Felizmente, esse paradigma foi quebrado, e nossos colegas de informática passaram a ser vistos como seres humanos e simples mortais.

Nos dias atuais, todo profissional, independentemente da área em que atue, tem como obrigação conhecer um pouco de informática, acessar a internet e conhecer planilhas eletrônicas, processadores de texto e correios eletrônicos. O computador pessoal faz parte da rotina de qualquer empresa, seja qual for o seu tamanho.

Para ser global, é necessário ser competente. Também é necessário ser ágil, produzir a baixos custos e ser criativo. Fica a cargo de supply chain, desempenhar adequadamente nesse processo, pois é fator decisivo na diferenciação competitiva, na forma de atender os clientes e prestar os serviços requeridos.

 

O NOVO PERFIL

A mudança de mercado tem provocado profundas alterações no perfil dos profissionais de supply chain. Aliás valer para todas as funções da organização. Supply Chain como uma função orientada para a redução de custos, com visão extremamente transacional, requer profissionais com atuação e visão mais amplas. O cliente é o foco, e é fundamental maximizar os valores para sua retenção. Portanto, os investimentos em conhecimento são cada vez mais essenciais para o êxito.

 

  • Conhecimentos genéricos

Para atuar na cadeia de abastecimento nas posições mais elevadas, o profissional deve ter um perfil bastante eclético, apresentando conhecimentos de processo, características de liderança, visão com orientação externa, habilidades para elaboração de estratégia e capacidade de análise objetiva, de modo que possa reconhecer em que pontos os processos podem ser melhorados para contribuir com o crescimento e o desenvolvimento da organização. Para atender a essas exigências, deve-se possuir uma grande experiência profissional, inclusive em negociações internacionais, uma vez que se está imerso no contexto da globalização, deve possuir habilidade analítica, ser comunicador para vender suas ideias e saber usar os conhecimentos e as ferramentas tecnológicas.

Além de experiência básica em negociação, as novas oportunidades exigem sólida exposição a decisões nas áreas de administração de clientes, tecnologia da informação, planejamento estratégico, administração de estoques, análise financeira, composição de custos entre outras demandas. Ao mesmo tempo, o profissional deve rapidamente preocupar-se em preparar pessoas para ajudá-lo na tarefa de transformação da empresa, montar um time qualificado com diferentes potenciais, seja buscando-o no mercado ou internamente, contratando recém-formados ou compondo equipes com características variadas. Isso irá depender do estágio em que se encontra a organização. Muitas delas podem necessitar de pessoas altamente capacitadas e não terão tempo de formar profissionais internamente. Mesclar as competências é bastante conveniente.

 

  • Conhecimentos específicos

As organizações, como já mencionamos, estão se tornando cada vez mais globais. Portanto, a negociação é qualificação essencial, uma vez que as alianças com fornecedores e clientes estratégicos são consideradas elementos-chave para a sua sobrevivência. Embora básico, o termo “negociação” exige experiência concreta e exposição ao mundo real, e irá determinar o sucesso da empresa.

Também é fundamental acompanhar a evolução do cenário econômico, a fim de buscar novas oportunidades de negócios independentemente de localização geográfica. Possuir conhecimentos genéricos é fundamental, mas, para vencer, alguns conhecimentos específicos são essenciais, e eles independem da área e da posição de atuação.

As competências especializadas são importantes por refletirem a fragmentação do mercado e demandarem conhecimentos mais profundos nos diversos nichos de atuação. A especialização pode ser amplamente categorizada. Por exemplo, pode ser específica para um segmento de indústria, como o segmento automotivo e, nesse caso, envolver todos os processos dessa indústria. Pode, ainda, ser uma especialização por função, em que o indivíduo possua conhecimentos profundos em um processo e pode aplicá-los em qualquer segmento industrial, como os conhecimentos específicos e detalhados na área de distribuição.

 

  • Conhecimentos técnicos

Os conceitos de qualidade, engenharia, logística, tributários, finanças e planejamento devem ser bem entendidos pelos profissionais da cadeia de abastecimento. Se o perfil for eminentemente técnico, então a área de atuação poderá ser uma área técnica específica. Esses conhecimentos exigem vivência e experiência.

Com as mudanças impostas nas organizações, não basta apenas ter habilidades técnicas; o profissional precisa conhecer os conceitos de se trabalhar em times multifuncionais.

 

  • Conhecimentos de tecnologia

A evolução das empresas e da forma de administrar está muito relacionada à evolução tecnológica, que encurta as distâncias e acelera a disponibilização das informações. Os profissionais devem entender necessidades básicas, como utilizar processadores de textos, correio eletrônico, aplicativos para montar uma boa apresentação, planilhas para fazer simulações de custos. Outras características estão relacionadas aos pacotes de mercado que suportam as empresas nas suas transações. Portanto, conceitos de Big Data, Gestão de Transportes, Gestão de Armazém, MRP II, ERP, aplicações de otimização de planejamento e distribuição devem ser conhecidos ainda que de forma genérica. Não é necessário tornar-se um profundo conhecedor de computação, mas os profissionais que se distanciarem da informática por qualquer razão – medo, insegurança, desinteresse – não serão valorizados e remunerados adequadamente pelo mercado.

A fim de obter sucesso no contexto da cadeia de abastecimento, o profissional deve estar constantemente atualizado e sintonizado com a evolução da tecnologia. Além disso, com o desenvolvimento tecnológico, as informações podem ser trocadas mais rapidamente, e os clientes estão exigindo mais rapidez. Dessa forma, exige-se que, cada vez mais, os profissionais concebam e executem ideias de forma mais rápida. A tecnologia é um elemento que viabiliza a agilidade nas organizações.

 

CONCLUSÃO

 

Não resta dúvidas de que vivemos uma época interessante. Tempo de grandes oportunidades, mas ao mesmo tempo muitos desafios sociais e pessoais. A competitividade entre empresas é intensa e ela é transferida para o campo individual. Ser autêntico, agir com atitude, criar condições de adaptabilidade, estruturar, participar e desenvolver equipes, não ter medo de opinar, de influenciar, permitir a inovação, são elementos essenciais para sobreviver no novo ecossistema. Encorajo os líderes e profissionais de todos os níveis a estudarem e compreenderem o mercado e questionarem se o que está sendo feito agrega valor para a empresa, acionistas, sociedade e indivíduo. Aprenda a desaprender e então reaprenda!

Para o infinito e além! Que a força esteja conosco!